"Desde 2003, está em curso um projeto de governo ou de Estado de desqualificar o conhecimento, os professores, os intelectuais e a escola. O objetivo é dar a falsa impressão de que a elite está sendo perseguida, de que finalmente chegou a hora da fala do povo, dos hábitos do povo, da maneira de ser do povo. Isto é preocupante, porque a função da escola é ensinar além da cultura popular. É ensinar mais que o senso comum. É facilitar a todos o acesso ao saber produzido socialmente. Quando uma família pobre matricula um parente na escola, espera que ele aprenda mais que histórias de vida, que ele fale e escreva melhor que os antepassados. Que ele aprenda a utilizar os conhecimentos científicos, artísticos, lingüísticos, históricos, geográficos, filosóficos para melhorar de vida, ascender socialmente, conseguir um emprego melhor, e para isto é fundamental um bom conhecimento da língua pátria.
Neste sentido , o MEC numa atitude demagógica, fundamentada num projeto político-ideológico-eleitoreiro, presta um desserviço aos mais pobres, porque os estudantes da classe média e da elite, que não freqüentam escolas públicas, estarão a salvo desta deseducação, e portanto melhor equipados para a competitividade da vida moderna. A justificativa de se valorizar os vários falares, escamoteia a busca pelo aumento de índices de escolaridade. Mais alunos terminarão o ensino fundamental e médio. Que bom! Mas, sem ter aprendido nada, porque ler, entender a linguagem culta, e escrever bem é a base de tudo.
Duas pergunta à dona Heloisa Ramos. A senhora é MESMO professora? Permitiria que seus filhos estudassem no livro que escreveu?"
Helena Maria de Souza
Profa de História da rede pública do Rio de Janeiro
R. Barão de Mesquita, 965/202
Grajaú/Rio
Tel (21) 2278 0612
E-mail: hellenasouza@uol.com.br
Comba,
ResponderExcluirConcordo com a profa. Helena de Souza. A fala destrambelhada dos "nois fumo" e dos "nois vai" não é apenas produto da falta de escolaridade e cultura. É principalmente fruto de grave exclusão social e cultural.
Nos inícios do século passado os escritores do nosso teatro popular adotaram o linguajar do povo e colocaram em cena os tipos populares no teatro de revista e nas letras de música. "Ai, ioiô, eu nasci pra sofrê, fui oiá pra ocê meus oinho fechô..." Isso significou inclusão cultural numa sociedade absolutamente intolerante, ainda mal saída da escravidão. As elites reagiram, na época, com violenta arrogância. Povo no palco, e falando aquela língua? Não, não podia, é claro.
Então me pergunto se aceitar hoje "a linguagem diferenciada do povo" irá produzir inclusão social e cultural ou agravar as exclusões existentes. Do jeito que a banda anda tocando, fico com a última hipótese.
beijão
Henrique
Comentários de quem nem ao menos leu o cápitulo do livro didático. A proposta em nenhum momento foi a de "ensinar" errdo. Essa é uma leitura errada que a mídia sensacionalista insiste em perpetuar.
ResponderExcluirPara quem não leu, aconselho que procure o Capítulo 1, chamado "Escrever é diferente de falar"
Para estimular a leitura completa do ÚNICO capítulo que trata do assunto, segue um trecho do livro:
"Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.”
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação,
você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente
diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras
estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as
formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante
adequada da língua para cada ocasião.(...)"
É ISSO que vocês chamam de "ensinar errado"?
Gabriela, prazer contar com sua participação no meu blog.
ResponderExcluirOlha, ao publicar, a pedido, o artigo da Prof. Helena Maria de Souza, tive a intenção de abrir a discussão no meu espaço. Eu mesma não tinha uma posição fechada sobre o tema. Busquei outras informações e me inteirei de que a midia colocara uma falsa discussão sobre o livro. Para mim, tudo ficou esclarecido. Fiz até um "mea culpa" na minha página no facebook. Só não voltei ao tema aqui no blog porque tive questões mais interessantes a abordar.
Então, cara Gabriela, respodendo à sua pergunta final: não tem esse "vocês". Não estou rigidamente alhinhada com os que atacam o tal livro.Para mim, a questão do livro está superada. Mais uma vez, obrigada por sua participação.