Em 1975, realizou-se no Rio de Janeiro o Seminário patrocinado pela ONU em razão do Ano Internacional da Mulher. Este evento foi o ponto de partida do novo movimento feminista carioca. Muitas das mulheres que participaram do seminário passaram a se reunir, no esteio da afinidade e de antigas amizades em pequenos grupos, chamados grupos de reflexão. Vejo agora menção aos "grupos de elevação da consciência" no livro "Tristes, loucas e más", de Lisa Appignanesi. Na página 378, Lisa comenta a experiência:
"Em seu livro inicial, Women's Estate (1971), Juliet Mitchell observou que o primeiro passo do caminho que conduzia a mulher que se queixava individualmente rumo à criação de um movimento político de mulheres era o grupo de elevação da consciência. Foi através de reuniões de mulheres que compartilhavam a "frustração inespecífica de suas próprias vidas privadas" que o problema pessoal - aborto, vida sexual miserável, aparência do corpo feminino - tornou-se político. "O processo de transformar medos ocultos e individuais de mulheres em uma consciência compartilhada de seu significado como problemas sociais, a liberação da raiva, da ansiedade, a luta para proclamar o sofrimento e transformá-lo no político - esse processo é a elevação da consciência."
"O pessoal é político" foi um dos principais slogans dos movimentos sociais dos anos 70, inclusive do movimento feminista. O lema vale para os nossos dias.
Eu fiz parte de um grupo de reflexão que me trouxe interessantes percepções. Questões e questionamentos que pareciam fantasmas só meus habitavam também o quarto escuro do coração de minhas amigas de grupo. Identificar isso e conversar sobre isso causa enorme alívio. Sim, é possível juntar-se às amigas para algo mais que os papos fúteis sobre as trivialidades do lar. A confiança é o requisito fundamental. Contar com a discreção das participantes do grupo, ou seja, contar coma solidariedade das participantes é fundamental.
O grupo de reflexão ou de elevação da consciência, como se queira chamar, pode abrir um caminho para o entendiemento das questões pessoais. Nada que substitua processos mais profundos, como as terapias orientadas por profissonais. Mas só afastar o sentimento de isolamento e perceber que não se está ficando louca já é um bom começo.
Quem disse que tais questões estejam superadas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário