quinta-feira, 19 de abril de 2012

Para eliminar o sexismo na linguagem


A Presidenta Dilma sancionou lei que determina às instituições públicas e privadas de ensino fazer constar dos diplomas a indicação do título flexionado no feminino, no caso das formandas. Acadêmicos e professores de português insurgem-se contra a lei, vide matéria em O Globo de 14/04/2012. Enviei mensagem ao Ancelmo Gois, questionando a neutralidade da forma masculina, lembrando que no início do século XX, o direito à inscrição como eleitoras era negado às brasileiras, sob o fundamento de que, na lei, a palavra “todos” (os brasileiros, os eleitores), no masculino, não incluía as mulheres. Logo, a história não confirma a neutralidade da regra. O Ancelmo publicou nota no blog da Coluna e alguns leitores dispararam comentários tragicômicos. O José de Almeida aconselha-me arranjar trabalho. Olha, moço, mesmo aposentada, não deixo de me ocupar, viu? Tenho, inclusive, publicado artigos em dois blogs, um sobre feminismo e outro sobre ópera. O Rodolfo Dias escreveu que “feministas nada mais são do que dementes invejosas”. Pegou pesado! Suponho que tenha empregado “dementes” em sentido figurado por considerar as feministas desmioladas, lunáticas, algo assim. Admito que sejamos, sim, sonhadoras: acreditamos ser possível eliminar os preconceitos machistas tão vivos em nossos costumes. Em contrapartida, o Luiz Antonio de Souza lembrou fato importante: “Ancelmo, procede o que escreveu a juíza do trabalho, pois na Academia Brasileira de Letras também o ingresso das mulheres foi adiado pela forma do estatuto - "Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros" - cuja interpretação excluia as mulheres...”. Em verdade, situa-se na ABL o maior foco de resistência à discussão sobre mudança das regras que permitam a adequação da linguagem à igualdade de cidadania entre homens e mulheres. Por sorte, a língua portuguesa já é mais inclusiva. Aqui temos, em regra, a flexão de gênero. Exemplo: professor/professora; escritor/escritora. Na língua francesa, ao contrário, predomina a adoção do masculino como forma (supostamente) neutra. Usa-se professeur, écrivain, no masculino, para nomear a professora, a escritora.
Se no Brasil o tema da linguagem inclusiva de gênero é visto como coisa pitoresca, em vários outros países avanços já foram consagrados. A escritora Benoîte Groult, em seu livro “Minha Fuga” (tradução de Mario Pinheiro, Rio de Janeiro, Record, 2011), relata a batalha travada na França contra o conservadorismo de linguistas e acadêmicos, observando que “a recusa do feminino faz parte de uma estratégia de conjunto, mais ou menos consciente, para retardar essa onda subterrânea que é a chegada das mulheres ao poder”. “A anomalia da linguagem reflete uma anomalia na sociedade. A linguagem forja a identidade daqueles ou daquelas que a falam, quer essa identidade seja nacional, cultural ou sexual”. Benoîte conta que em 1990, “o Conselho da Europa publicava circular sobre a eliminação do sexismo na linguagem, recomendando aos Estados membros a adaptarem o vocabulário à autonomia dos dois sexos, baseando-se no princípio de que as atividades de um ou de outro sejam visíveis da mesma maneira.” E conclui: “não se pode suspeitar que o Conselho da Europa seja um antro de incendiárias”.
Como se vê, haja paciência. É muito difícil desconstruir dogmas, inclusive os da gramática. Mas a inteligência há de superar a intolerância. A Presidenta Dilma está em sintonia com o movimento mundial pela eliminação do sexismo na linguagem.

2 comentários:

  1. A Dilma quer eliminar o sexismo, mas ela própria é uma sexista. A língua portuguesa tem uma forma neutra para designar o cargo por ela ocupado: presidente. Serve para os dois gêneros, não possui a desinência típíca do feminino: "a" nem a desinência tipica do masculino: "o". Mas ela faz questão de utilizar o termo sexista "presidenta".

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  2. Parabéns pelo comentário acima.
    Aproveito para perguntar, respeitosamente, à Senhora Comba se a presidenta, na sua juventude, foi estudanta.
    Sinceramente, se essa história absurdamente paranóica, incoerente e nada producente de sexismo na linguagem tomar vulto, a concisão e a clareza dos textos vão ser sacrificadas.
    É um desperdício de energia, uma lástima.
    Também não consigo identificar os citados dogmas da gramática, tampouco, a intolerância, citados no último parágrafo.
    E não é de surpreender que esse movimento paranóico seja de âmbito mundial, pois a história universal está repleta de grandes ações incoerentes, equivocadas e insanas.
    Me desculpem, mas é a minha opinião.
    Cordialmente,
    Nilo Lobo

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