Certos clubes da elite carioca vêm
exigindo o uso do uniforme branco como meio de identificação das “babás” que,
por ordens de seus patrões e patroas, acompanham crianças nas atividades
recreativas nas dependências de tais instituições. Tal conduta vem ensejando o justo
inconformismo das empregadas domésticas e estas já contam com o apoio de muita
gente que não vê outra explicação para a medida que não o puro e mais arraigado
preconceito de classe.
As explicações dos clubes envolvidos
nas denúncias, tal como divulgadas na imprensa, não convencem. Sem dúvida, o
acesso a qualquer clube é restrito aos sócios e a seus dependentes. Há também a
categoria dos “convidados” que não se aplica ao caso das empregadas domésticas. Elas
não ingressam no clube para usufruir das atividades oferecidas, como ocorre com
os convidados. Elas estão a serviço, cumprindo ordens de seus respectivos
patrões e patroas.
Há clubes que oferecem serviços a não
sócios, por exemplo, aulas de hidroginástica. Neste caso, é fornecida uma
carteira de identificação a ser exibida na portaria, sem a qual o acesso do
aluno regularmente matriculado fica vedado. Simples, não? Por que não usar este
mesmo critério para o acesso das empregadas domésticas dos sócios e das sócias,
já que somente entram nos clubes em razão do trabalho que a estes prestam?
As “babás”, sem dúvida, devem ser
identificadas e o bom senso manda que a estas seja conferida uma carteira de
identificação ou documento semelhante no qual conste o seu nome, seu número de
identidade, o nome do sócio ou da sócia que a credencia a acompanhar crianças, especificando-se
que o faz na condição de empregada doméstica.
Do ponto de vista da segurança das
crianças o uniforme nada garante. Quantos bebês já não foram sequestrados em maternidades,
valendo-se a sequestradora do uniforme de enfermeira?
Só mesmo o mais arraigado preconceito
de classe pode explicar a exigência do uso do uniforme
branco como meio de identificação das empregadas. Na verdade, o que se pretende com a medida é
distinguir pelo traje as patroas das empregadas, como até bem pouco tempo,
exigia-se que empregadas domésticas passassem restritamente pelas áreas de
serviço dos prédios. Puro exercício de discriminação.
O caso das “babás”já vem até ocupando
o Ministério Público, quando a solução da identificação documental não poderia
ser mais evidente!
Tento sempre imaginar o Rio de
Janeiro como uma cidade mais propensa à eliminação dos preconceitos. Independentemente
de cor e condição social, compartilhamos as areias de nossas belas praias, a própria
geografia social da cidade se construiu sob o primado da diversidade. Mas a
elite – sempre a elite – insiste em impor tratamentos diferenciados, contrariando,
assim, a índole democrática do temperamento carioca. O uso do uniforme de qualquer cor, ainda
que contratado entre patroas e empregadas, não deve ser tomado como forma de
diferenciação para efeitos externos, como, no caso, a identificação para acesso
às dependências dos clubes.
Fique claro que a conduta dos clubes
traduz o pensamento de seus sócios, notadamente de suas sócias, pois bem se
sabe que os homens são poupados nas tratativas com empregadas domésticas. Aguardemos,
pois, uma solução de bom senso para o caso. Quem sabe, uma sócia-patroa mais
descolada, mais sensível à modernidade possa sugerir a velha carteira como meio
de identificação?
Sensato comunicado!!!! Seu blog é necessário!!!!!
ResponderExcluirObrigada, Aline. Penso em animá-lo, escrevendo com mais frequência. Assunto não falta... Saudações feministas!
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