sábado, 19 de janeiro de 2013

O caso das "babás" , puro preconceito


Certos clubes da elite carioca vêm exigindo o uso do uniforme branco como meio de identificação das “babás” que, por ordens de seus patrões e patroas, acompanham crianças nas atividades recreativas nas dependências de tais instituições. Tal conduta vem ensejando o justo inconformismo das empregadas domésticas e estas já contam com o apoio de muita gente que não vê outra explicação para a medida que não o puro e mais arraigado preconceito de classe.
As explicações dos clubes envolvidos nas denúncias, tal como divulgadas na imprensa, não convencem. Sem dúvida, o acesso a qualquer clube é restrito aos sócios e a seus dependentes. Há também a categoria dos “convidados” que não se aplica ao caso das empregadas domésticas. Elas não ingressam no clube para usufruir das atividades oferecidas, como ocorre com os convidados. Elas estão a serviço, cumprindo ordens de seus respectivos patrões e patroas.
Há clubes que oferecem serviços a não sócios, por exemplo, aulas de hidroginástica. Neste caso, é fornecida uma carteira de identificação a ser exibida na portaria, sem a qual o acesso do aluno regularmente matriculado fica vedado. Simples, não? Por que não usar este mesmo critério para o acesso das empregadas domésticas dos sócios e das sócias, já que somente entram nos clubes em razão do trabalho que a estes prestam?  
As “babás”, sem dúvida, devem ser identificadas e o bom senso manda que a estas seja conferida uma carteira de identificação ou documento semelhante no qual conste o seu nome, seu número de identidade, o nome do sócio ou da sócia que a credencia a acompanhar crianças, especificando-se que o faz na condição de empregada doméstica.  
Do ponto de vista da segurança das crianças o uniforme nada garante. Quantos bebês já não foram sequestrados em maternidades, valendo-se a sequestradora do uniforme de enfermeira?    
Só mesmo o mais arraigado preconceito de classe pode explicar a exigência do uso do uniforme branco como meio de identificação das empregadas. Na verdade, o que se pretende com a medida é distinguir pelo traje as patroas das  empregadas, como até bem pouco tempo, exigia-se que empregadas domésticas passassem restritamente pelas áreas de serviço dos prédios. Puro exercício de discriminação.
O caso das “babás”já vem até ocupando o Ministério Público, quando a solução da identificação documental não poderia ser mais evidente!
Tento sempre imaginar o Rio de Janeiro como uma cidade mais propensa à eliminação dos preconceitos. Independentemente de cor e condição social, compartilhamos as areias de nossas belas praias, a própria geografia social da cidade se construiu sob o primado da diversidade. Mas a elite – sempre a elite – insiste em impor tratamentos diferenciados, contrariando, assim, a índole democrática do temperamento carioca. O uso do uniforme de qualquer cor, ainda que contratado entre patroas e empregadas, não deve ser tomado como forma de diferenciação para efeitos externos, como, no caso, a identificação para acesso às dependências dos clubes.  
Fique claro que a conduta dos clubes traduz o pensamento de seus sócios, notadamente de suas sócias, pois bem se sabe que os homens são poupados nas tratativas com empregadas domésticas. Aguardemos, pois, uma solução de bom senso para o caso. Quem sabe, uma sócia-patroa mais descolada, mais sensível à modernidade possa sugerir a velha carteira como meio de identificação? 

2 comentários:

  1. Sensato comunicado!!!! Seu blog é necessário!!!!!

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  2. Obrigada, Aline. Penso em animá-lo, escrevendo com mais frequência. Assunto não falta... Saudações feministas!

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