sábado, 10 de março de 2012

Memória de minha atuação feminista na imprensa

De meados de 1986 a abril de 1987, mantive a coluna "PALAVRA DE MULHER" no jornal carioca, "Última Hora", dedicada aos temas do movimento feminista de que eu participava. Por sorte, tenho guardados os recortes das edições diárias,  senão todas, quase todas. Antes que o tempo os desfaça (e já se apresentam em tons fortemente amarelecidos, como brancos lá vão os meus cabelos) resolvo digitalizar tudo e republicar neste blog, relacionando os temas tratados no passado com os atuais abordados em minhas postagens.  

Na última matéria aqui editada sobre a "infelicidade das mulheres", à propósito de nota divulgada em O Globo sobre pesquisa da FGV, abordei o que chamo de "cultura da desigualdade familiar" como causa da infelicidade que, pelos dados da pesquisa, é maior entre as mulheres casadas. Conquanto sejamos  muito críticas com os costumes orientais, por exemplo, o aprisionamento das mulheres em burcas, não nos damos conta de que também estamos igualmente presas a um tipo de burca cultural que nos induz a aceitar como normal a dupla jornada de trabalho e tantos outros padrões da "educação para a submissão" (expressão cunhada pela feminista e educadora italina Elena Gianini Bellotti) a que somos submetidas. No meu artigo vou além da questão familiar e o termino questionando outros comportamentos femininos impostos pelo machismo, tais como a suposta liberdade sexual, a imagem de mulher segundo os padrões da moda e da sociedade de consumo.

Em 1986, certo produtor de filmes pornográficos foi preso em flagrante no Rio por uso de imagens de meninas menores de idade. Seguem trechos da coluna do dia 22 de outubro, sob o título "Corpo à venda":
" o produtor declarou que as meninas que contratava não eram coagidas a serví-lo, que chegavam lá por suas próprias pernas, procurando espaço para ganhar uma graninha e subir na vida como modelos ou atrizes de cinema. A notécia do flagrante revela que meninas de até 10 anos foram filmadas para o cidadão de mais de 50 anos. (....) A declaração do criminoso dá o que pensar. (...) Numa sociedade em que tudo se vende, em que os valores de consumo assumem maior importância na vida das pessoas, tal ocorrência pode não espantar. (...) O exercício da sexualidade tomou estranho rumo. A repressão intensa do sexo fou substituída por uma "liberalidade" perversa que vem condicionando nas mulheres um sentimento de menos valia de seu corpo . (...) Não tenho dúvidas de que o explorador de meninas deve ser severamente punido. No entanto, vejo uma responsabilidade coletiva por crimes dessa natureza. Os filmes pornôs produzidos pelo criminoso eram comprados pelos donos de motéis que, por sua vez, os efereciam aos casais que silenciaram diante do que viram. Todos os beneficiários deste tipo de comércio - muitos deles certamente pais de meninas que estão sujeitas a se envolver com tal negócio - devem refletir à sério, sobre o caso."
  

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